segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Voltando a vida normal.

Olá caros leitores!
É muito bom estar voltando.
Creio que a maioria já deve saber, mas passei de novo por alguns momentos meio turbulentos. Voltei ao hospital para uma consulta de rotina em fins de agosto, e acabei ficando internado por 05 dias para um tratamento. Depois do tal tratamento não tive mais condições de trabalhar e tive que retornar ao hospital 02 semanas depois para fazer uma nova cirurgia na cabeça. Dessa vez fiquei mais 10 dias internado, e depois da alta, mais alguns dias de recuperação em casa. Ou seja: lá se foram perto de 02 meses.
Foi meio sofrido, embora eu sempre acabe vendo outros pacientes que certamente estão com problemas maiores. A saudade da Ágatha foi muito intensa... bem difícil. Ela estava justamente entrando em semana de adaptação na creche, que fica longe de casa, a Rose teve que se virar e arrumar sempre alguém para levar ela lá. O dindo Xandy quebrou muitos galhos. Mesmo depois de ter alta, me recuperando em casa, eu não tinha grandes condições de dar muitas atenções a ela.
Mas enfim, isso agora já faz algumas semanas e estamos aí de novo. De volta a minha casa, ao trabalho, à correrria do dia-a-dia.
Mais uma vez, como a dois anos atrás, foi o que mais pedi: poder voltar logo a minha rotina.
De novo uma lição (embora eu ainda não a precisasse): só quem tem que largar tudo e se deitar numa cama de hospital por vários dias é que vai ver o quanto é bom estar em casa, trabalhar (inclusive passar pelos estresses dele), caminhar ao ar livre, comer uma pizza, um xiz (a comida do hospital era boa, mas lhes garanto que enjoa).
Você sai completamente do ritmo do dia ao estar internado... dorme-se muito de dia, de noite não se consegue pregar o olho. E qdo vc finalmente consegue adormecer, aparece um enfermeiro lhe cutucando, dizendo que é hora de verificar os sinais vitais, ou fazer injeção tal, ou tomar remédio tal...um saco! Demorei alguns dias após a alta, para engrenar no sono nos horários adequados.
Um banho decente e verdadeiro então é outro desejo, fiquei 08 dias só na base do banho com paninhos, e depois mais 02 semanas sem poder lavar a cabeça em casa. Vc pode até ficar limpinho, mas não tem aquela sensação gostosa de banho tomado.
E olha que meus 08 dias foram pouco... havia um senhor no quarto que já estava na cama fazia quase 02 meses... ui...
Bom, mas muitas pessoas não sabem exatamente por que internei e operei dessa vez, permitam lhes explicar.
Como deve ser do conhecimento de todos, em 2008 tive um problema sério de tumor na cabeça, mas que consegui superar com cirurgia e tratamento de radioterapia.
Pois bem, só que a tal cirurgia deixou algumas sequelas. Uma delas é a perda de grande parte da audição do ouvido direito, e a outra é o surgimento de uma Fístula Liquórica.
Vou explicar: fístula liquórica é uma consequência que surge espontaneamente em cerca de 30% dos casos de cirurgias na cabeça. Consiste numa rachadura (fístula) que aparece após o processo cirúrgico, de onde vaza o líquor, que é o líquido que corre ao redor de nosso cérebro e por dentro de nossa coluna vertebral. Ele é uma espécie de capa protetora, junto com as meninges.
O mais comum é ele sair pelo nariz (como foi o meu caso), mas pode sair pelos ouvidos e até pelo canto dos olhos.
Pois bem, eu convivi com isso durante dois anos e meio. Era um pinga-pinga no nariz... bastante incômodo, e por vezes, constrangedor. As vezes eu estava sentado, trabalhando no computador, e um colega de trabalho passava e me dizia que eu estava com o nariz escorrendo, e não estava percebendo... tal e qual uma criança ranhenta.
Qualquer inclinação da cabeça um pouco pra frente, e saia aquela aguinha. Calçar sapatos, escrever, lavar louça, varrer o chão, passar pano no chão, lavar o carro...
Dormir deitado e de bruços então, de manhã acordava com o travesseiro sempre molhado.
Eu ficava pensando de onde vinha isso, mas com o tempo fui deixando, acostumando, me acomodando...
Eu até que relatei isto de início para os médicos em minha consultas periódicas, mas a princípio, ninguém dava bola.
Até que em fins de agosto, na minha última revisão, o doutor viu nos meus prontuários a tal queixa de "vazamento", e me perguntou se aquilo continuava.
Eu respondi que sim, e ele para minha surpresa disse que isto provavelmente era fístula liquórica, que isto era algo que não se podia deixar assim, que tinha que tratar de fechar isto imediatamente, que era incrível que eu ainda não tinha pego meningite, pois assim como sai líquido, pode muito bem entrar algo... a fístula liquórica é uma porta aberta para invasores, especialmente a meningite. E disse que tinha um leito para mim já!
Me pegou totalmente de supresa... eu tinha descido para uma simples consulta de revisão, e ele queria ficar comigo lá embaixo para tratar isso, e eu nem tinha vindo preparado... nenhuma roupa, nada, o carro parado num estacionamento em São Leopoldo...
Enfim, foi uma função, primeiramente pedi para ele se eu então não poderia ir para casa, me organizar e voltar no dia seguinte, mas ele disse que não, que o leito estava vago hoje... amanhã ele já não sabia mais se estaria.
Bom, liguei para a Rose, expliquei a situação, e decidimos que eu era para ficar, que ela daria um jeito de me mandar roupas e pegar o carro.
Bom, ela conseguiu, e fiquei internado a espera daquilo ao qual iriam me submeter.
O tratamento inicial para fístula liquórica consiste no seguinte: um dreno é inserido alguns centímetros em sua coluna vertebral, e conectado a um recipiente, de tempos em tempos, alguém vem, e abre uma válvula e deixa escoar uma quantidade X de ml de líquor para dentro do recipiente (no meu caso, eram 30 ml de 3 em 3 horas). Ou seja, 240 ml por dia (nosso organismo produz este líquido diariamente, ele é sempre suprido).
O objetivo é fazer sair através do dreno o excesso de líquor que saía pela fístula, fazendo com que ela possa ficar seca e fechar por si dentro de alguns dias.
Simples assim.
O problema é que a coisa não é tão simples. Você fica PROIBIDO de levantar da cama, e tem que ficar sempre com a cama levantada em 30 graus. E além disso, as primeiras drenagens foram tranquilas, mas a partir de uns 2 pra 3 dias, começaram a vir umas dores de cabeça muito fortes, tão fortes que ao fim do quarto dia os médicos resolveram suspender o tratamento.
Com uma tomografia constataram que a fístula não tinha fechado com o tratamento não cirúrgico, e agora a opção era operar mesmo.
Me mandaram para casa para esperar a cirurgia.
As duas semanas que fiquei em casa foram difícies: muita dor de cabeça, tentei ir trabalhar várias vezes, mas sempre acabava passando mal após alguns minutos no trabalho. No fim, acabei desistindo de ir trabalhar.
Dia 27/09 internei de novo para fazer a tal cirurgia, que ocorreu dia 01/10. A cirurgia consistiu em abrir a cabeça no mesmo lugar da primeira cirurgia, localizar a fístula, e fechá-la com uma mistura de cola/músculo.
A cirurgia foi bem sucedida, embora o doutor tenha me dito depois que foi um custo achar a fístula, a cirurgia que estava programada para cerca de 1h, durou quase 3. Ela estava localizada já perto do ouvido direito.
O detalhe é que o negócio não se resumiu apenas a cirurgia: tive que depois disso, repetir todo aquele tratamento de novo. Outra vez o tal dreno na coluna, e sete dias na cama drenando...
Posso lhes garantir que inserir aquele dreno na coluna foi seguramente uma das coisas mais doloridas pelas quais passei, mesmo com duas anestesias, dói muito, pq a coluna é cheia de terminações nervosas.
Não foi fácil, mas enfim, passou.
Creio que deu certo: não senti mais pingos saírem do nariz, ufa... que alívio.
Mas enfim, desculpem o Post demasiado comprido, mas é isso aí mesmo.
Mais uma vez meus agradecimentos a toda equipe do Hospital São José, da Santa Casa (médicos, enfermeiros, cozinheiros...) todos sempre muito profissionais e humanos.
Agradecimentos a minha esposa Roseli, e várias outras pessoas que a auxiliaram enquanto estava sozinha com todas as coisas a fazer. Não citarei nomes, quem ajudou sabe...
A Ágatha está um total amorzinho como sempre. Algumas fotos, sempre posto no orkut qdo dá um tempinho.
Saudações a todos.